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Commodities vs. Valor Adicionado (Kusca)

31/05/2015 - Por marcos sawaya jank
Atenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

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Originalmente publicado no Jornal “Folha de São Paulo”, Caderno Mercado, 30/05/2015 - para acessar o texto original clique aqui

Marcos Sawaya Jank (*)

Ao tratar das relações Brasil-China na coluna de 16 de maio, fiz a seguinte colocação: "O sucesso do modelo pautado pelo comércio de commodities é evidente, mas tem limites claros à frente. São poucos produtos de baixo valor adicionado, alta volatilidade, margens apertadas e transporte ineficiente". Recebi comentários antagônicos e achei que deveria hoje retomar o assunto, sempre polêmico e atual.

O primeiro comentário foi: "Nossa pauta de exportações para a China é paupérrima em produtos de valor agregado, o que faz do nosso comercio bilateral uma reedição canhestra do chamado pacto colonial".

O segundo foi: "Discordo da sua afirmação de que commodities não têm alto valor agregado. Por trás de cada grão – soja, café e até das carnes – há muita tecnologia e valor agregado, que reúne uma cadeia gigantesca de tecnologias de Primeiro Mundo".

Aproveito os comentários para analisar os desafios do modelo agro exportador brasileiro. De um lado, não tenho a menor dúvida de que agregamos valor em nossas commodities, e muito. Somos um dos países que mais ganharam competitividade e eficiência nesses produtos, graças ao uso de tecnologias tropicais modernas, a ganhos de escala e à presença de produtores capacitados e motivados. As commodities agropecuárias de hoje – intensivas em capital e alta tecnologia – pouco ou nada têm a ver com as commodities intensivas em trabalho do período colonial. Além disso, nossos grandes concorrentes nesse segmento não são países pobres, mas sim Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e Argentina.

Contudo, por outro lado, é fato que mais da metade das exportações brasileiras está concentrada em dez commodities básicas com pouca ou nenhuma diferenciação, cujo grande vetor de competitividade é o custo baixo. Exportamos nossas carnes por US$ 2 a US$ 6 por quilo. Recentemente vi carne locais, altamente diferenciadas, sendo vendidas a até US$ 100 o quilo em supermercados de Seul, na Coreia do Sul.

Creio que a melhor explicação para essa realidade está na sutil diferença entre "valor agregado nas commodities" e "valor adicionado nos alimentos". Somos bons em agregar valor em commodities básicas, cujo diferencial competitivo são altos volumes e baixos custos. Mas ainda estamos engatinhando no processo de adição de valor dos produtos para clientes e consumidores internacionais.

Marcas reconhecidas internacionalmente, variedade de produtos, atendimento a diferentes segmentos de mercado, entrega rápida e segura, domínio de canais de comercialização, certificação e denominação de origem são alguns elementos usados para a diferenciação de produtos, todos ainda pouco explorados pela maioria das empresas brasileiras.

Estamos falando de conceitos básicos que geram diferentes vantagens competitivas no mercado. França e Itália são fortes e competitivas na oferta de alimentos e bebidas de alto valor adicionado, mas fracas em commodities básicas, setor no qual dificilmente serão competitivas no mundo (apenas com pesados subsídios).

O Brasil é o contrário, forte em commodities, fraco em valor adicionado. Mas tem todas as condições para atuar nos dois segmentos com eficiência. Só que o país e as empresas têm de sair da zona de conforto e se globalizarem, de verdade.

*Marcos Sawaya Jank (Kusca F-84) é Engenheiro Agronômo, mestre em Master Of Sciences pela Centre International Des Hautes Etudes Agronomiques Mediterraneens (1988), doutor em Administração pela Universidade de São Paulo (1996), com pós-doutorado pela University Of Missouri Columbia Agribusiness Research Institute (2000) e pós-doutorado pela Georgetown University School Of Foreign Service (2001) É especialista em questões globais do agronegócio. Atualmente trabalha na BRF em Cingapura, é ex-morador da República Kbana.

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