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A Revolta de Atlas (Alfinet - F09)

06/03/2016 - Por rodolfo tramontina de oliveira e castro
Atenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

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Atlas foi um titã, símbolo de resistência. 

Normalmente, é retratado carregando a Terra em seus ombros: um equívoco mitológico.

Durante a Titanomaquia, guerra entre titãs e deus olímpicos, Atlas e seus irmãos aliaram-se a diferentes lados. Atlas e Menoécio, aos titãs, Prometeu e Epimeteu ao lado vencedor. Com a derrota, Zeus condenou Atlas a carregar Urano (Céu) em seus ombros por toda a eternidade, enquanto apoiado no lado oeste da Gaia (Terra).

É a Terra, portanto, que "carrega" Atlas. Não o contrário.

Observo o mesmo tipo de equívoco quando elevam o agronegócio a categoria de "carregador de piano do PIB" ao analisar os dados divulgados pelo IBGE.

"O agro foi único setor que registrou crescimento", dizem. "Crescemos 1,8% enquanto o país teve queda de 3,8%", comemoram. Verdades, mas pouco relevantes.

Para o IBGE, todo o setor agropecuário responde por apenas 4,5% do PIB. Muito distinto da participação de 20-22% calculada pelo Cepea/CNA, a qual nos orgulhamos. 

Para os últimos, até novembro, o crescimento de todo o agronegócio nacional (soma de insumos, agricultura, pecuária, indústria e serviços), foi de míseros 0,12%!

Esqueçam o Atlas, a locomotiva do país parou.

Remeto a uma anedota do Roberto Rodrigues, em entrevista ao Roda Viva:

"Imagina um desenho de uma criança. Um desenho de um morro e um trem subindo o morro. A locomotiva é o preço agrícola. Os vagões são os preços dos insumos. Adubo, semente, mão-de-obra, defensivo... Quando os preços sobem, todo mundo ganha dinheiro com a agricultura. Quando a oferta se equivale a demanda, os preços começam a cair... A locomotiva desce o morro, mas os vagões ainda estão subindo... Custos subindo e preços caindo." (em que vagão você está?) 

Segundo a FAO, os preços mundiais de alimentos iniciaram 2016 no nível mais baixo em quase sete anos, reflexo da aceleração da economia mundial, fortalecimento do dólar e queda do preço do petróleo (este último, inclusão minha).

Por aqui, é como se estivéssemos navegando pelos mares de morros de Minas Gerais. Quando a locomotiva parece retomar a subida, descobre ser um breve respiro. E de marola em marola nos afundamos.

Preços caindo e custos subindo é, contudo, só a ponta do iceberg. Quem explica a parte mais profunda é Atlas: o romance, não o titã. 

Escrito pela filósofa Ayn Rand, há mais de 50 anos, "A Revolta de Atlas" retrata um Estados Unidos distópico e em decadência, espelho de nosso Brasil atual.

"No romance, os medíocres ameaçam o governo dos Estados Unidos e começam a controlar e assumir os empreendimentos que davam certo, sob a alegação de que os empreendedores queriam o lucro, e não o bem da sociedade. Tal política tem como resultado a gradual perda de competitividade dos americanos, o estouro das finanças, a eliminação das iniciativas bem-sucedidas e a fuga dos grandes investidores e empresários, que são perseguidos, grande parte deles desistindo de administrar suas empresas, com o que os governantes se tornam ditadores e o povo passa a ter os serviços públicos e privados deteriorados.", resenha o Dr. Ives Gandra da Silva Martins.

O romance é o 2o livro mais influente dos EUA, segundo a Biblioteca do Congresso Norte-Americano. Peca pelos seus personagens maniqueístas, mas prima pelo enredo e diálogos.

Um dos mais famosos e síntese da obra é a ideologia que precisamos descontruir para retomar nossa posição de protagonistas, de locomotiva do país, de Atlas.

"Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; quando perceber que a corrupção é recompensada, e a honestidade se converte em auto-sacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada."

Eu acredito no agro e no Brasil.

Rodolfo Castro (Alfinet - F09) é Eng. Agrônomo, Coordenador Comercial da AgroTools e ex morador da República Kangaço

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